As Bananeiras

Numa ocasião quando fomos dar mais uma pegada na construção do rancho, levamos algumas mudas de bananeiras que plantamos com a intenção de atrair para mais perto um bando de bugios que por ali moravam. As mudas vingaram e, em touceiras, os pés de banana foram se proliferando e produzindo cachos. Mas os símios não aproveitavam porque o pessoal as tiravam ainda verdes. O Sr. Paulo Mulek, que recentemente havia começado a trabalhar na minha chácara, cuidava do pomar e inclusive das bananeiras que estavam bem ao lado do mato. Zeloso que era o Sr. Paulo tentava deixar um cacho de banana madurar para os macacos. Mas o cacho desaparecia assim que começava a pintar. Numa sexta-feira bem cedinho quando chegamos ao rancho para mais um final de semana não encontramos o Sr. Paulo. Mais tarde ficamos sabendo por intermédio de um visitante que o Sr Paulo em companhia do Zenildo (novo vizinho) foram até a localidade do Lavador (de onde mudo-se o Zenildo) para consultar um benzedor porque o Sr. Paulo sofria de hemorróidas e já tinha tentado de tudo para sarar mas não conseguia. O Zenildo garantiu que a simpatia indicada pelo Zé Bugre, se fosse feita com fé, não havia doença que não fosse curada. Isto também dito e avalizado pelo visitante que conhecia o curandeiro. No sábado de madrugada, ainda quando dormíamos, como de costume o Sr. Paulo veio fazer o fogo no fogão à lenha do nosso rancho para termos a água quente do chimarrão e café. Antes mesmo de fazer o chimarrão o Sr. Paulo começou a desculpar-se por não estar sexta-feira para nos receber, como sempre fazia. Eu falei para ele que já sabíamos o que ele tinha ido fazer e que estava tudo bem. Explicou que a demora para voltar para casa não foi porque havia muita gente para ser atendida pelo benzedor e sim porque o Zenildo lhe convenceu para irem por uma estrada que, embora fosse mais longe, não tinham tantas subidas e descidas como na outra de menor distancia que seria mais cansativa. Mas o Sr. Paulo chegou a conclusão que a indicação da tal estrada foi porque no trajeto ate chegar no Zé Bugre tinha quatro bodegas. Então ele teve que pagar oito tragos de pinga para o seu cicerone. Quatro na ida e quatro na volta. Quanto à simpatia, o Sr. Paulo veio pedir autorização para cortar alguns pés de bananeiras. O benzedor lhe recomendou que fosse cortado um pé de banana meio metro acima do solo e sem calças ele sentasse em cima do tronco como fosse um banquinho. Isto deveria ser feito durante sete dias consecutivos. Caso fosse interrompido, teria que começar tudo novamente. Deveria sentar no tronco uma hora antes de anoitecer e ficar até o Sol desaparecer totalmente. Tinha que começar na próxima segunda feira, pois era o primeiro dia da Lua Nova e nesta fase da lua a seiva gosmenta que jorra do tronco é abundante. Quatro semanas após retornarmos ao rancho para mais uma pescaria notamos que quase todas as bananeiras haviam sido cortadas. O Sr. Paulo começou a nos explicar dizendo que lá pelo terceiro ou quarto dia em que ia sentar no tronco , apareciam visitas na sua casa, começavam bater palmas para chamá-lo e ele tinha que levantar, vestir as calças e atendê-los. Assim cortada a corrente tinha que iniciar tudo no dia seguinte. Na última tentativa ele tinha conseguido seis dias consecutivos e no sétimo quando sentou, bem de baixo do tronco tinha um ninho de formigas sarará que foram em grande quantidade morder as duas nádegas.

 "Não consegui terminar a simpatia mas por uns dias eu me esqueci das hemorróidas porque a dor das picadas era bem mais forte", disse o Sr. Paulo.

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