As Corredeiras do Caiacanga



Foto:  Aniele Nascimento / Gazeta do Povo
 Na minha adolescência, em dezembro de 1960, acompanhei minha avó em uma viagem até Guarapuava, para assistir-mos a um casamento. Esta viagem está gravada em minha memória até hoje. Partimos de Araucária em um trem que nos levaria ate a cidade de Ponta Grossa, cuja locomotiva era movida a óleo diesel. Fizemos uma baldeação para outro comboio, desta vez puxado por uma Maria Fumaça. Fomos ate a cidade de Irati, ficamos um final de semana visitando a família Sekula. Em Rio Azul, onde residia meu tio Boleslau Jasiocha passamos o Natal e Ano Novo. Seguimos ate Guarapuava levados por outra Maria Fumaça. Quando o trem parou na Estação de Inácio Martins, eu avistei um estabelecimento comercial, onde naquele momento estava acontecendo uma briga entre freqüentadores; talvez? Eu para apreciar as paisagens viajei o tempo todo com a janela do vagão sempre aberta, o que me fez chegar ao destino com os olhos ardendo e lacrimejando devido às partículas de carvão liberadas pela chaminé da Maria Fumaça. Após o enlace matrimonial do meu primo Miguel Sekula, ficamos mais uma semana em Guarapuava, e assim como foi em Rio Azul e Irati pescamos, fizemos novas amizades, divertindo-se com festas e acontecimentos insólitos que minha memória armazenou e hoje para meu deleite às vezes elas afloram. Passado uns trinta anos, na minha profissão de representante comercial, estando em Guarapuava, ao terminar meu trabalho, resolvi satisfazer meu espírito saudosista retornando para minha casa por uma estrada que margeia em alguns trechos a via férrea que vai de Guarapuava até Rebouças. Ao passar por Inácio Martins fui tomar uma cerveja naquele estabelecimento, que de dentro do vagão eu vi alguns elementos brigando. Ao comentar com o comerciante, ele me disse que naquela época era o seu Pai que trabalhava no armazém de secos e molhados, mas que continua dando brigas quando o pessoal se excede na bebida alcoólica.

Na verdade, o que eu mais gostei nesta viagem foi o visual maravilhoso e inesquecível das corredeiras do Rio Iguaçu entre a Estação de Engenheiro Bley (município da Lapa) passando por Caiacanga até Porto Amazonas. É um percurso em que a estrada de ferro margeia o rio, onde de trecho em trecho avistam as chamadas corredeiras do Caiacanga. Hoje a linha férrea desvia este trajeto.

Em Araucária eu morava na frente da Estação Ferroviária, onde meu Pai tinha uma casa de comercio. Quando o telegrafista titular entrou em férias veio para substituí-lo o Odair Garret residente em Porto Amazonas. Em pouco tempo fizemos amizade e fui convidado para passar um final de semana em sua casa. Novamente tive a oportunidade de apreciar aquelas maravilhosas cascatas. Em Porto Amazonas fomos pescar de bote já abaixo da última cachoeira do percurso. Refrescados pelo denso nevoeiro e ouvir o extasiante barulho provocado pela queda d’água, ainda tivemos a sorte de fazer uma boa pescaria de mandis. Após este passeio comecei visitar as corredeiras com maior freqüência. Um companheiro que sempre esteve presente foi o Zig, como é conhecido o Zygmunt Kujawa. Pegávamos o trem em Araucária até a Estação de Caiacanga, e lá permanecíamos o final de semana. O Zig fez amizade com um garimpeiro que nos emprestava um bote para ajudar na pescaria e contava histórias sobre o garimpo de diamante, nos deixando curiosos e com vontade de garimpar. O que fizemos por várias vezes quando o rio estava baixo deixando expostos os panelões (buracos) cavados pela erosão ao longo dos anos, mas nunca encontramos nada. Compramos de um tirador de areia em Araucária um bote para levar até Caiacanga. Descendo o rio, no terceiro dia alcançamos a primeira corredeira (em Engenheiro Bley) ao descer enroscamos nas pedras algumas vezes. Na segunda foi maior a dificuldade, quase viramos a embarcação que estava carregada com o material do acampamento. Na dúvida que as próximas cascatas seriam ou não mais perigosas resolvemos parar. Demos o bote de presente para o chefe da Estação de Engenheiro Bley, o Senhor Nelson Lemos e voltamos para casa de trem. Isto não fez nos desistir de pescar em Caiacanga, voltamos lá por vários anos.


Em pé:  Rogério Jasiocha,  sentado à esquerda Benjamim Sobota e amigos que moravam em São Paulo e vinham visitar Caiacanga

O rio quando estava baixo expondo os panelões

Piscinas de água cristalina formadas por afluentes do Iguaçu


Estação Inácio Martins e a Maria Fumaça da época



Comentários

  1. Imagino o quanto foi agradável viajar desfrutando de toda paisagem pela janela do vagão. Me lembrei da Maria Fumaça de minha cidade até Campos do Jordão. Até hoje temos a viagem de trem daqui p/ lá. É a Serra da Mantiqueira em meio à Mata Atlântica com sua incrível biodiversidade.
    Olha, parabéns por mais essa gostosa história. Continue escrevendo suas lembranças.Muito legal!

    ResponderExcluir
  2. Excelente postagem! Acampei ao lado do salto Caiacanga quando era adolescente, um lugar lindo! Estão querendo destruir o lugar com uma pequena central hidrelétrica... Estamos na luta para que isso não aconteça. Essa usina nada trará de benefícios para o município de Porto Amazonas, muito pelo contrário, só problemas. Quem quiser saber mais, é só procurar pelo GARI (Grupo Ambientalista do Rio Iguaçu).

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ola Walther. Realmente sera lamentavel se esta represa vier a cobrir as cascatas ali existentes, principalmente o salto Caiacanga. Elas não são somentes belas, também ajudam na oxigenação da poluida agua do nosso Iguaçu.

      Excluir

Postar um comentário