Descendo os rios da Várzea e Negro

Em dezembro de 1987, eu, meu pai e meu filho fizemos um bote de madeira que demos o nome Dom Leandro, para levar e deixar no rancho em Antonio Olinto. Em vez de levarmos rebocado pela estrada de rodagem até lá preferimos ir navegando.
O João Merka que estava dando mais uma pegada na construção do rancho nos levaram até a ponte de ferro sobre o rio da Várzea na divisa dos municípios da Lapa e Campo do Tenente. Esta foi a primeira vez que íamos fazer este percurso navegando. Ao lado da ponte, um morador, disse que a distância dali até o nosso destino seria mais ou menos 110 quilômetros no rio da Várzea e mais 60 no rio Negro. Então fiz o seguinte cálculo: Se o barco (com motor de 4HP) andar a uma velocidade média de 20 quilômetros por hora, levaríamos 8 horas e meia para chegar lá. Já eram oito horas da manhã quando pusemos o barco na água e partimos rio abaixo. Enquanto isto o João seguiu de carro até o rancho para aguardar nossa chegada no entardecer deste mesmo dia. A cada hora de viagem parávamos para pescar e esticar as pernas. Estava bom para pescar, em cada parada pegava-se alguns peixes. Foi tudo bem até as 17 horas quando quebrou o motor. A partir deste momento, sem saber a distância que faltava para ser percorrida, continuamos a navegar só no remo. No local onde deu a pane no motor tinha dois tambores enroscados na galhada do rio, como não tínhamos levado material de acampamento estava sobrando espaço na embarcação, então carregamos os dois.
Já era noite, comemos o pouco que sobrou do almoço, algumas bananas e pão. Continuamos rio abaixo. O luar contrastava a sombra das árvores com a água do rio, formando um espelho onde também aparecia a Lua, criando uma maravilhosa imagem e dando referência para navegar. As 21 horas, já com um pouco de frio, principalmente o meu pai e meu filho, eu remava sem parar, não sentia o efeito da brisa fresca que existia no momento. Ouvimos vozes dentro da mata, começamos a gritar e nosso apelo foi respondido por um homem na beira rio, que, disse ter vindo porque escutou voz de criança. Contamos o que aconteceu, e, ele nos convidou para ir até o acampamento onde estavam mais dois pescadores ao lado de uma fogueira de fronte para uma barraca de lona plástica. Em uma panela de ferro que continha gordura quente, um deles fritou os peixes que tínhamos pegado durante o dia. Até hoje o meu filho Leandro diz que foi o melhor peixe que comeu em sua vida (a fome é o melhor tempero). Ainda para o meu pai e meu filho eles cederam os cobertores para dormirem dentro da pequena barraca. Eu e os três pescadores passamos a noite conversando ao lado da fogueira, tomando café com um pouco de Velho Barreiro para cortar o sono. Um deles conhecia bem o rio naquela região e me disse que deste local (Barra dos Mélos) até o nosso destino, tínhamos que remar mais 15 horas. Pela manhã nos deram um café com broa de centeio e carne de porco na banha que seria a única refeição do dia caso a gente não encontrasse jerivá maduro para comer. Bati umas fotos, mas infelizmente não saíram porque deu problema com o filme que estava no fim. Estas pessoas que nos acolheram durante a noite, são moradores da localidade de Mato Preto no município da Lapa e todos da mesma família; Paulo V. Maurer, Edson V. Maurer e Marcos R. Maurer.
Partimos deste local às 7h da manhã, às 7h30 um homem que encontrava-se na barranca do rio disse que os tambores que estávamos levando no barco lhe pertenciam, pois ele estava mudando uma draga de tirar areia e soltou os tambores para descerem com a correnteza do rio e estes dois tinham se enroscados ficando para traz. Devolvemos um tambor porque o outro ele nos presenteou. Às 9 horas chegamos ao encontro dos rios da Várzea e Negro. A partir da foz tínhamos mais sessenta quilômetros para remar até o rancho. Fizemos algumas paradas somente para colher jerivás maduros, chegando ao destino às 21 horas.
Nos anos seguintes descemos o mesmo percurso mais quatro vezes, mas sempre com dois barcos motorizados.
Leandro e Wenceslau Jasiocha (Sr. Wasseco)

Comentários

  1. O TEMPO PODE ATÉ PASSAR MAS AS BOAS LEMBRANÇAS JAMAIS SERÃO ESQUECIDAS.

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