Gastronomia no Rancho

Quando íamos pescar ou simplesmente dar mais uma pegada na construção do rancho, sempre existia um cardápio gastronômico para ser seguido. E isto não era difícil porque havia muitos companheiros que gostavam e eram exímios pilotos de fogão. Também havia os que não cozinhavam, mas davam todo apoio necessário lavando louça, fazendo fogo, cortando lenha, enfim, ajudando o Mestre Cuca no que fosse preciso. Os que mais se destacavam como ajudante eram Mario Visoski e Ernani Pedroso. Os pratos que eu gostava de preparar era feijoada e bacalhoada, porque o bacalhau e alguns ingredientes da feijoada precisam ser dessalgados com antecedência e isto fazia ir uns dois dias antes, e assim ficar mais tempo por lá.
Na cozinha Italiana tinha o Aramis Brunato que gostava de fazer galinha caipira com polenta acompanhada de vinho colonial tinto seco, salada de radiche, escarola ou agrião. Este último de preferência o selvagem, colhido na beira do Rio Negro (não o agrião d’água, e sim um que nasce na margem do rio que é bem mais picante).
A cozinha ucraniana representada pelo João Stupak tinha uma variedade de pratos, como por exemplo: Perohe (pastel de batata com requeijão cozido), hretchka (tatarca) com carne de porco, holuptzi (charuto de repolho), ukha (sopa de peixe), kulesha (farinha de milho com leite, manteiga e queijo), chachlik (carne de borrego no espeto) e mais alguns de nome bem difícil. E para fazer algum destes pratos o João, gostava de ir para o rancho já na quinta feira.
A comida árabe era preparada pelo Sr. Felix Schausteck, que fazia com muito capricho quibe cru e assado, homus, Kafka, tabule, patê de berinjela e charuto na folha de uva.
Odarci Finardi era proprietário de restaurante, então fazia de tudo. Principalmente peixes, assados, rabada e língua com ervilha.
Lotario Balbinoti fazia como ninguém um purê de mandioca com torresmo servido com carne de porco e um bom vinho tinto.
Getulio Paula Souza aprendeu fazer galinha recheada com sua mãe. E quando enfornava algumas penosas o cheiro ia lá à beira do rio, fazendo nos desistir da pescaria porque a boca ficava cheia d’água.
Rômulo Caldeira Sales, este companheiro não gostava de pescar, e como bom mineiro, ficava no rancho trabalhando em silêncio nos aguardando com torresmo pururuca, tutu de feijão, frango com quiabo, quibebe de abobora entre outros pratos gostosos da comida mineira. Uma das ocasiões que ficou marcado com a presença do Rômulo foi um dia em que levei meu cachorro de estimação, o Chocolate. Como de costume fomos pescar e o cachorro ficou no rancho com o Rômulo. O chacareiro nesta época era o Jaime Montilevcz que tinha uma criação de garnisé. O Chocolate não estava acostumado com galináceos e pegou um deles levando em seguida para o Rômulo, que lhe encheu de agrados. Sendo assim o cão ficou feliz, continuou caçando até trazer a última das doze aves que viviam soltas no terreiro. Devidamente depenadas e temperadas foram para a panela e nos foi servido uma garnisezada com macarrão. Fizemos uma vaquinha e pagamos o Jaime, que recomendou não mais trazer cachorro que mora em cidade para o mato.

Rômulo e Chico Menegatti lavando louça

Ezio Paula e Souza cuidando do café matinal

Comentários

  1. Me emocionei lendo esta... lembrei no nosso Choco. Tudo bem que ele seguiu seus instintos, mas não há demonstração de maior companheirismo e integração no grupo do que esta. Ele trouxe a caça. Saudades Choco ! Pat

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