Na década de 70, viajando de trem, sempre íamos passar alguns finais de semana pescando no Rio Iguaçu em General Lúcio. Bem perto da estação férrea existe uma cachoeira, e do outro lado do rio era a propriedade do senhor Carlito Moroski. O Sr. Carlito, era um ótimo companheiro que gostava de pescar e contar histórias. Sempre nos acolhia em sua propriedade, dando pouso em um paiol onde guardava feno e sua produção agrícola. Como de costume nos levava a carne já temperada para o churrasco. O Sr. Carlito ascendia uma fogueira para formar um brasido onde íamos fazer o assado. Em redor do fogo, ficávamos churrasqueando e ouvindo suas histórias. A lenha que ele usava para fazer a brasa sempre foi de guamirim e cambuim. Estas alem de produzir um brasido bem forte não fazem fumaça para dar gosto na carne. E foi sobre esta lenha guardada para ocasiões especiais que ele nos contou uma historia: “Quando tinha uma árvore de guamirim que estava para secar, ele a transformava em lenha e guardava sob uma cobertura que tinha no potreiro a uns duzentos metros da sua casa, ficando assim protegida da chuva. Certo dia ele notou que a pilha de lenha estava diminuindo e com certeza que não era ninguém da família que estava pegando, resolveu agir. O Sr. Carlito pegou um pedaço de pau que era oco pela ação das brocas, encheu de pólvora preta e colocou novamente na pilha, avisou seus familiares e ficou aguardando os acontecimentos. Como era de costume, uma vez por semana ele visitava o pessoal das cercanias. Convidado pelo seu compadre para tomar chimarrão entrou ate a cozinha e notou que o fogão estava recentemente reformado e o teto da casa estava todo impregnado de grãos de feijão semi cozido. Estava descoberto o ladrão misterioso.”
No dia seguinte quando estávamos indo para a estação pegar o trem, os cachorros latiam em um loca perto do rio. Era a morada de uma nutria onde tinha uns filhotes já grandinhos. O Sr. Carlito, com uma habilidade de mestre, fez um entalhe na ponte de uma vara fina com mais ou menos um metro de comprimento. Colocando a vara dentro do buraco e girando de modo que o pelo do animal ia se enrolando na ponta da vara, e assim eram puxados para fora. Pegou três filhotes, colocou dentro de um saco de estopa e presenteou nosso companheiro Kimura, que tinha a intenção de criá-los como bichinhos de estimação
Ao embarcarmos no trem que já estava lotado de viajantes, o Kimura colocou o saco com os animais debaixo de um dos bancos sem ninguém perceber e viajou em pé bem ao lado. Chegando a Araucária ao desembarcar, nosso companheiro pegou o saco e notou que as nutrias haviam escapados por um buraco que fizeram com seus afiados dentes. O Kimura desembarcou com o saco vazio. Pois tentar pega-las em um curto espaço de tempo que o trem espera e ainda lotado era impossível.
Como eu morava em frente da estação férrea, no dia seguinte fiquei sabendo através do telegrafista, sobre o sururu provocado pelos bichinhos soltos no vagão de passageiros.
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A nutria que provocou o sururu
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