Olhos de Lince

Com vontade de comer uma fritada de peixe bem fresquinho, eu e meu filho Leandro subimos o rio umas cinco voltas do nosso rancho e apoitamos no final de uma reta onde se formava um excelente pesqueiro de lambaris, bagres e mandis. Aproveitando a sombra de uma frondosa Soita Cavalo já estávamos ali quase três horas e havíamos pescado o suficiente para o nosso almoço. Quando estávamos nos aprontando para voltar ao acampamento avistamos no começo da reta uma canoa descendo lentamente e margeando o lado direito do rio. Às vezes o remador encostava bem na barranceira e com uma vara puxava algo para sua canoa. Aquilo aguçou nossa curiosidade e ficamos esperando para ver o que estava se sucedendo com aquele pescador. Quando ele se aproximou bem, então o reconhecemos. Era o Estefano Olinik, conhecido como “Olhos de Lince”. Ele vinha remando sua velha canoa (ponha velha nisso) que tinha um furo na proa esquerda o que lhe obrigava a ficar sentado bem do lado direito para inclinar e evitar que entrasse água na embarcação. Quando ele nos avistou, começou a remar em nossa direção, pois tinha certeza que ia ganhar um gole de pica pau (cachaça, mel e limão). Para agradecer o aperitivo ele nos ofereceu as oito rãs que acabara de caçar enquanto descia o rio. Ele as avistava no palheiro e com sua cetra (estilingue) num lance certeiro as abatia e com o auxilio da vara as puxava para a canoa. O Estefano morava algumas voltas abaixo do nosso rancho e sempre subia o rio para visitar sua namorada a Joana do Banhado, como era conhecida a viúva que morava perto do rio ao lado de um grande charco. Além da cetra pendurada no pescoço ele sempre carregava consigo uma espingarda pica-pau carregada com chumbo grosso que era para abater caças de grande porte como veados e capivaras. Era um exímio pescador e caçador, não errava tiros, andava na mata sem fazer barulho e sempre sabia onde encontrar o que queria abater, além de caçar somente para seu consumo. Tinha sempre plantado ao redor do seu ranchinho alguns pés de mandioca que complementava com peixes e carne de caça suas refeições. Não gostava de trabalhar por dinheiro. Quando pedíamos a ele algum favor como cortar alguns galhos que poderiam cair sobre o telhado do nosso rancho ele parecia um macaco subindo naquelas arvores. Com um facão que levava na cinta ela fazia o serviço com uma rapidez incrível só para nos agradar e ganhar uns goles de cachaça e cigarros de papel. Certo dia quando fomos ao rancho para mais uma pescaria ficamos sabendo que o Estefano havia desaparecido. Haviam encontrado somente sua canoa, a cetra, a espingarda e uma fieira de peixes pescados já há alguns dias. Esteja aonde estiver, Estefano não desapareceu da nossa memória. 

Estefano Olinik fazendo um remo para ir visitar a Joana do Banhado.


Comentários

  1. Oi Pa, essa eu lembrava vagamente..muito legal, depois de ler a historia recordei do dia com muitos detalhes...O Estefano era uma figura que ficou marcado!..a vida dos caboclos tem muito a ensinar...abracao do seu filho Leandro

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  2. São mistérios da vida...Mas foi um grande companheiro, esteja onde estiver estará junto a Deus.

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