PESCARIAS NO RIO IGUAÇU DE OUTRORA

PARTE I – AS POUSADAS

Nos velhos tempos quando íamos pescar no Rio Iguaçu, normalmente fazíamos às chamadas “pousadas” que eram realizadas nos finais de semana, ocasião em que se montava um acampamento para passar a noite. Após montar a barraca e juntar a lenha para manter o fogo sempre aceso então eram armados os equipamentos para
pegar os peixes que era nosso objetivo maior. Os espinhéis (um cordel onde se colocava um anzol a cada 60 cm) eram amarrados em um galho, e, atravessando o rio com alguns pesos para afundá-lo amarrava-se a outra ponta, os catueiros (pequenos caniços com linhas e anzóis) eram armados ao longo das barranceiras e também se armava linha de mão com iscas especiais no intuito de pegar um peixe maior. Para os espinheis e catueiros eram usados como iscas: o minhocão (minhocaçu), sangue sugas pretas e vermelhas e tripa de galinha. Para se conseguir minhocão, nós pegávamos o trem até a estação do Barigui (onde hoje é a cidade industrial de Curitiba) e tínhamos apenas duas horas para cavoucar a terra e encontrá-las, pois tínhamos que novamente tomar o trem para retornar a Araucária. O sangue suga vermelho nós íamos achá-los nos montes de cavacos onde era cortada a lenha para abastecer os fornos da olaria do Sr. Hermínio Brunato (onde hoje se encontra a Refinaria da Petrobras em Araucária). O sangue suga preto nós comprávamos em Curitiba ao lado do Estádio Dorival de Brito, por onde passava o Rio Belém, que já tinha suas águas poluídas tornando o ambiente propicio para elas se criarem e onde existiam muitos meninos que as catavam e vendiam aos pescadores. A tripa nos conseguia com pequenos avicultores em Araucária que nos finais de semanas abatiam galinhas para venderem já limpas aos consumidores. Para realizar estas pescarias dependíamos de botes (canoas de madeira) os quais eram mantidos com uma corrente, cadeados e amarrados em uma árvore na beira do rio e dentro d água para ficarem sempre encharcados sem terem vazamento para entrar água. Para propulsionar o bote nós preferíamos usar varejão (vara de bambu com mais ou menos 5 metros) ao remo, porque o rio não era muito profundo, mas era um pouco correntoso. Eu mantinha meu barco chamado “LONTRA” na Pedreira dos Torres, era um excelente lugar para se pescar. Durante o tempo em que mantive minha embarcação neste local nunca ninguém a danificou. Quando algum pescador precisasse do bote para fazer sua pescaria era só pegar a chave do cadeado com o Sr. Aristóteles Bosqueto, que morava bem perto dali e zelava pelo meu barco. Para se deslocar de nossas casas até este local íamos de bicicleta ou de carroça com o Sr. João Durski. Sempre levava-mos pouca tralha, apenas lona para a barraca, apetrechos para pescar, iscas, facão, frigideira, chocolateira para fazer café e esquentar a água para o chimarrão que eram feitos com a água do próprio Rio Iguaçu (hoje é impossível devido o grau de poluição deste rio). Para a primeira refeição sempre fazíamos lingüiça no espeto e churrasco, para as demais utilizávamos os peixes que pescávamos que naquela época era abundante. Nos meses de Novembro e Dezembro uma maneira fácil de pegar peixe era “toquear”.  Para isto, entrava-se na água, procurava as tocas submersas e com as mãos pegava os acaras que estavam la dentro se acasalando (pesca predatória que naquela época não era fiscalizada) também se pegava cascudos e em algumas tocas que não estavam totalmente cheias d água (chamadas de meia lua) encontrava-se alguma cobra d água que apenas provocavam um tremendo susto no pescador. Para fazer nossas “pousadas” íamos rio acima e às vezes descíamos por que dependendo do tipo de pescaria e os peixes que queríamos pegar, cada lugar tinham características diferentes. No Estádio Pedro Nolasco Pizzato  pertencente ao Araucária FC que ficava na beira do  Iguaçu e era o ponto mais próximo do centro de Araucária,  existiam muitos botes amarrados nos branquilhos que sombreavam a beira do rio, e deste local os pescadores partiam à procura de um lugar para montar acampamento ou simplesmente fazer uma pescaria durante o dia. Os pesqueiros mais procurados rio acima eram na seqüência: Ilha do Porto de Areia, Torres, Pedreira dos Torres, Poço da Folha, Volta Funda, Ilha dos Cantelle, Reta dos Cantelle, Rio Velho da Campina dos Bocós, Poço da Cruz, Reta da Raia, Desemboque do Faxinal, Bosqueto, João Pedreiro, Desemboque do Barigui e Desemboque do Mauricio. Ate este ultimo gastavam-se 4 horas tocando o barco com o varejão. Descendo rio tínhamos na seqüência: Volta furada (fundos da atual Delegacia de Policia de Araucária), Figura, Pedreira do Figura, Porto das Laranjeiras, Desemboque do Rio Passa Una, Burkoski, km 42, km44, km 45 ou Corte Preto e km 49(estes km referiam-se a o marco da estrada férrea que margeava o rio), deste ultimo pesqueiro, para se subir de barco ate o Estádio Pedro Nolasco Pizzato  gastavam-se mais de 4 horas. Naquela época o Rio Iguaçu não era poluído e corria pelo seu leito natural recebendo águas cristalinas de seus tributários ao contrario de hoje que recebe todo o esgoto de Curitiba e região metropolitana com dejetos humanos e poluição industrial e ainda perdeu seu serpenteamento porque foi dragado desde a capital até a localidade de Guajuvira. Continuamos na próxima publicacao...

Uma pescaria na Ilha dos Cantelles  - Março de 1966.
Uma pousada na Campina dos Bocós.
Da direita p/ esquerda Aberto Cantelle, Alfredo Gavleta
 e Rogério Jasiocha - Janeiro de 1964.

Botes de madeira iguais aos que usávamos naquela época
(Foto: Rio Iguaçu em Porto Amazonas)





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