O Alemão Garimpeiro

Em 1960 meu pai tinha uma casa comercial no bairro Estação em Araucária e lá apareceu um freguês que o pessoal chamava de Alemão.  O Sr. Abílio Cortiano, que morava ao lado do nosso armazém cedeu um paiolzinho para o Alemão que possuía a roupa do corpo e talvez mais algumas mudas em uma velha mala de couro. Ele, assim como outros fregueses,  passava o dia no armazém “bebericando” e jogando conversa fora. De vez em quando o Alemão arrumava um serviço {cortar lenhas, arrancar batatas, colher feijão} para ganhar uns trocados e continuar no armazém “bebericando” até que o dinheiro lhe faltasse para novamente ir trabalhar {naquela época a cachaça era muito barata}. O seu nome era Carlos Eichman, mas afirmava não ser parente de Adolf Eichmann, carrasco nazista da Gestapo que foi capturado na Argentina {1960} e condenada à morte em Israel. Ele também afirmava que certa ocasião {mais ou menos em 1955} quando estava internado em um hospital na cidade de Ponta Grossa, PR, foi visitado e interrogado por gente que ele achava ser da policia estrangeira e que estavam à cata do nazista que tinha uma letra n a mais em seu nome.
Ainda bem jovem o Alemão começou a trabalhar na marinha mercante. Em um pequeno navio ele sempre viajava entre os estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Contava o Alemão, que o comandante sempre mantinha nos porões da embarcação muitas aboboras para caçar tubarão. Quando estes peixes eram avistados, com algum engodo eles eram atraídos para perto do navio e as abóboras que estavam sendo cozidas com a água fervente da caldeira eram atiradas inteiras e bem quentes para que os tubarões as engolissem. E assim, com seus estômagos cozidos pela ação da abobora quente os tubarões mortos boiavam, eram içados para embarcação e vendidos nas peixarias, rendendo um dinheiro extra para os marujos.
Algum tempo depois, o Alemão mudou-se para o Paraná e começou a trabalhar em vapores que faziam o trajeto entre União da Vitoria e Porto Amazonas transportando madeira e erva mate. Passado alguns anos ele deixou este serviço e foi tentar a sorte garimpando diamantes, começando no rio Tibagi e afluentes e posteriormente nas corredeiras do Caiacanga no rio Iguaçu.
O Alemão sempre nos contava sobre suas viagens pelo rio Iguaçu e as garimpagens nas corredeiras do Caiacanga, a qual atiçava nossa vontade de navegar pelo Iguaçu e também encontrar algumas pepitas no Caiacanga, quando por lá íamos pescar. Ele nos disse que quando garimpou nas corredeiras do Caiacanga chegou acumular uma quantidade de pedras de diamantes suficiente para encher um gomo de bambu {igual da foto acima}. Na época ele foi até Curitiba para vender estas pedras e o comprador lhe ofereceu como parte do pagamento um terreno na rua Mal. Deodoro, no centro da cidade, ele não aceitou e quis tudo em dinheiro. Então passou em uma loja, comprou um acordeom novo e foi para Ponta Grossa morar no baixo meretrício onde tinha uma amiga dona de um bordel que ia ensinar-lhe a tocar sanfona. Pouco tempo depois o Alemão estava sem a sanfona, dinheiro e saúde devido às noitadas e o excesso de fumo e álcool. Um médico caridoso lhe internou em um hospital da cidade e o tratou até ficar parcialmente restabelecido. Tentou garimpar novamente, mas já não tinha mais animo e forças. Mais ou menos em 1975 não enxergando mais devido ter cataratas, aparece um enfermeiro que trabalhava no Hospital de Clinicas {universidade} e o levou para ser operado. Alguns dias depois o Alemão retornou operado e curado {estou enxergando até frente fria, dizia todo alegre}. A convite de um caminhoneiro o Alemão foi para Paranaguá onde começou vender sorvete nas filas de caminhões perto do cais do porto e tempos depois soubemos que ele voltou a ter problemas com a visão e sofreu um acidente fatal. Grande contador de historias esteja onde estiver você sempre estará em nossas lembranças.

À esquerda em pé com as mãos na cintura o Alemão garimpeiro . Os demais: Tonico Miranda, Abílio Cortiano, Wasseko, Dionísio Baja, Benvindo Cruz Mendes, Cadorin, Dante Luiz Wachowicz e Luiz Elirio Baja.
As corredeiras do Caiacanga quase sem água devido um grande período de estiagem.
Piscinas naturais de águas cristalinas se formavam nos afluentes do rio Iguaçu em Caiacanga.

Já imaginaram quantos gominhos de bambu o Alemão teria que encher para fazer uma escada de brilhantes igual a esta na Joalheria Swarowski da Av. Champs Elysées em Paris ?

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