CASA WASSEKO - A ENTREGA DA GRASPA - Parte III

foto: CTG SAUDADES DO SUL
Logo pela manhã quando meu pai estava abrindo o armazém para mais um dia de trabalho já havia três clientes esperando pela abertura. Depois de se cumprimentarem, cada um entregou a lista de mercadorias que queriam comprar, e nestas cada um pedia dois litros de aguardente. --- Entre todas estas mercadorias que vocês estão solicitando eu ainda não tenho a aguardente e o querosene, pois estas mercadorias ainda estão difíceis de serem encontradas nos fornecedores. Para substituir o querosene vocês poderão levar velas, vai produzir a mesma claridade, quanto à cachaça, estou para receber uma graspa muito boa ainda hoje pela manhã, falou meu pai. --- Ontem à noite eu conversei com o compadre Tonico, que disse ter experimentado esta graspa que o Sr vai receber e ele falou que 

é boa demais, confidenciou um dos clientes. Enquanto meu pai e minha mãe separavam os pedidos, parou na frente do armazém o Sr Almeida e o Sr João Pisca-Pisca com a gaiota (pequena carroça com um cavalo) carregada de litros de graspa. Após descarregarem a mercadoria em um pequeno depósito que tinha nos fundo do armazém pegaram trezentos litros vazios e voltaram à chácara para dar continuidade na faxina do velho galpão, ainda o Sr Almeida disse ao Sr João, caso aparecer alguém querendo comprar graspa, era para dizer que já estava tudo vendido. Enquanto os três fregueses estavam pagando suas compras meu pai abriu um litro e encheu um cálice para cada um deles, por conta da casa, também neste momento parou e desceu da charrete o padeiro para fazer a entrega diária de pães, que também ganhou uma dose de graspa e comentou: nossa que coisa boa, pois eu entrego pão em todos os armazéns aqui em Araucária, e em nenhum deles está tendo aguardente ou graspa. Daquele dia em diante começou aparecer gente de todos os cantos da cidade para comprarem graspa (o padeiro deve ter espalhado a noticia). Uns diziam que era para fazer remédio outros que iam pescar e alguns diziam que gostavam mesmo de tomar e era difícil encontrar. Apareciam alguns querendo comprar em grande quantidade para revender, mas meu pai preferia vender só no varejo, pois para ele que estava querendo formar novos fregueses, esta graspa veio na hora certa. Quando o Sr Almeida veio fazer a segunda entrega e receber a primeira, meu pai já encomendou para que fossem entregue 500 litros na próxima vez. Novamente o fornecedor chamou meu pai para uma conversa reservada e disse: tenho boas novas noticias. --- Ao dar continuidade na faxina do galpão eu cheguei perto dos outros dois toneis e constatei que eles também estão cheios de graspa igual a esta primeira, são mais quatro mil litros aproximadamente. O Sr Almeida foi categórico ao oferecer novamente o produto ao meu pai, dizendo: Sr Wasseko eu prefiro vender toda mercadoria para o Sr, na mesma forma que negociamos o primeiro tonel, pois o Sr esta me pagando um bom preço por algo que não me custou nada quando eu adquiri a chácara. Meu pai, novamente fechou a compra com Sr Almeida, achando que ambos fizeram um bom negocio, pois para o Sr Almeida o lucro era liquido por não ter investido nada no produto inclusive no vasilhame, e para o meu pai ter uma graspa de excelente qualidade em seu estabelecimento, quando ainda o pós-guerra dificultava o fornecimento de derivados de petróleo e cana de açúcar, deste principalmente a cachaça que não podia faltar em qualquer armazém. Era uma maravilha, pois isso ajudava angariar novos fregueses.


Continua na próxima postagem----------------A NOVA CLIENTELA



Alambique para destilação de graspa que é uma bebida alcoólica de origem italiana. Tradicionalmente é feita a partir de bagaço, um subproduto do processo da vinificação. A graspa existe desde a idade média e também é conhecida como bagaceira. ----Foto: Blog VINHO TODOS OS DIAS!

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