Então o Sr Almeida ordenou ao João
Pisca-Pisca que fosse feito uma seleção do material que existia dentro do velho
galpão, separando, limpando e guardando ordenadamente oque poderia ser útil e
incinerando os entulhos que para nada serviam. Diariamente o Sr Almeida ia
conferir o serviço do Sr João e aprovava oque via, o lugar estava ficando limpo
e organizado. No quinto dia de trabalho
o Sr João chegou até em um dos três toneis que ali estavam, e ao bater com um
pedaço de madeira, notou que a enorme vasilha não estava vazia, e era liquido o
seu conteúdo. O Sr João foi contar a descoberta ao Sr Almeida que já
providenciou uma escada e subiu em cima do tonel e constatou que esta estava
cheio e hermeticamente fechado. Continuaram tirando os entulhos que rodeava o
tonel até chegarem à torneira. Devem ter deixado cheio de água para evitar que
a madeira ressecasse, pois já faz uns dez anos que a destilaria parou de
funcionar, comentou o Sr Almeida. Quando finalmente acharam a torneira,
limparam tirando as teias de aranhas que a envolvia e ao abri-la sentiram um
cheiro muito forte. O que será que é isto?
Perguntou o Sr Almeida. É GRASPA, respondeu prontamente o Sr João.
---Como o Sr sabe que é graspa? Há! Pelo cheiro, no inverno em vez de pinga eu
tomo graspa, respondeu o Sr João. O Sr Almeida falou ao seu assistente para
continuar fazendo a limpeza enquanto ele ia conversar com o Sr Wasseko.
Chegando ao armazém, com uma garrafa cheia de graspa, chamou meu pai para uma
conversa reservada e disse: Eu tenho um tonel com mais ou menos dois mil litros
deste produto, veja se lhe interessa comprar um pouco. Meu pai pegou a garrafa,
tirou a rolha, sentiu o aroma, tomou um golinho e disse: parece ser um produto
bom. Este produto esta há mais de dez anos sendo envelhecido em um tonel de
carvalho, falou o Sr Almeida. Ainda meu pai encheu três cálices com a bebida e
ofereceu a três clientes (bons conhecedores de aguardente) que estavam naquele
momento no armazém. Quando terminaram de sorver o aperitivo, foram unanimes em
afirmar que se tratava de uma graspa de excelente qualidade, que ainda não
tinham provado uma tão saborosa e macia. Então já que o produto tinha sido
aprovado pelos fregueses à negociação foi realizado, meu pai comprou o conteúdo
do tonel para que fossem entregue trezentos litros por semana, e os pagamentos
seria semanal após a entrega da segunda remessa. Retornando ao galpão o Sr Almeida ordenou que
o Sr João parasse com a faxina e dissolvesse um pacote de soda cáustica dentro
de uma grande tina de madeira com água para que fossem mergulhados os
vasilhames a serem utilizados. Na manhã seguinte após lavarem e enxaguarem os
vasilhames foi feita a transferência da graspa do tonel para os trezentos
litros que deveriam ser entregues neste mesmo dia.
Continua na próxima
postagem-------------A ENTREGA DA GRASPA
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