O CAÇADOR DE PERDIZ

O caçador de perdiz Jose Iargas e sua esposa Dona Rosa.
 

No ano de 1961, eu tinha apenas quatorze anos de idade e já acompanhava meu pai nas caçadas que ele e seus companheiros faziam no período de caça que ia do dia 1º de maio até dia 31 de julho de cada ano. Meu pai era insistente em me ensinar como manejar uma espingarda, principalmente o cuidado de como segura-la para evitar acidentes, também como municiar se a arma fosse uma pica-pau, ou carregar os cartuchos caso fosse de fogo central. Um ano antes eu já havia ganho de presente uma espingarda calibre 36 de um cano para caçar no mato, mas minha vontade era caçar codornas no campo igual ao meu pai. Nas ocasiões que fomos caçar em lavouras e nos campos da Lapa, somente encontrávamos codorna, até então eu nunca tinha visto uma perdiz a não ser em fotografia que aparecia na lata de chumbo de caça. O sr. Jose Iargas quando aparecia no comercio do meu pai sempre falavam sobre caçadas e o sr. Iargas descrevia as caçadas de perdiz que fazia na região de Pien e Fragosas onde ele residiu por muito tempo, e isso aguçava minha vontade de um dia caçar perdiz.

Perdigão


No mês de junho de 61, um outro freguês do armazém que sempre ouvia as conversas sobre caçada disse que morou em São Mateus do Sul, na localidade de cambará e lá existia muita perdiz nas lavouras e caso meu pai quisesse ir para fazer uma caçada ele iria junto. Meu pai, sr. Iargas, e mais dois companheiros combinaram para irem no próximo sábado fazer esta caçada, na qual eu também iria. A condução que usamos foi um velho caminhão Volvo a gasolina que meu pai tinha comprado a pouco tempo. O sr. Bruno Sobota trabalhava como motorista para meu pai e ele que foi dirigindo o caminhão que vivia quebrando muito, para isso foi também o sr. Boris, um imigrante russo, que morava em nosso bairro, e era um excelente mecânico. No sábado saímos bem cedo, mas naquela época a estrada não era totalmente asfaltada, então chegamos no cambara ao anoitecer. Meu pai e seu freguês que morou naquele lugar foram pedir permissão ao proprietário das terras onde tinha muita perdiz. O dono das terras não deu ordem alegando que ele e seus amigos iriam caçar veado neste domingo, e caso algum caçador desse um tiro os cachorros veadeiros seriam atrapalhados em suas perseguições, mas que em outra ocasião poderíamos caçar à vontade. Diante desta situação fomos até uma casa comercial ali perto, que com duas lanternas a querosene iluminando em cima do balcão estavam atendendo seus últimos fregueses daquela noite. O comerciante era um homem servil, ele nos fez um jantar com linguiça pura de porco frita, broa caseira, batata doce assada e café, ainda nos ofereceu um paiol ao lado da casa para passarmos a noite. Quando fomos deitar para dormir, um ao lado do outo no chão do paiol, o sr. Jose Iargas nos deu uma demonstração de religiosidade, ajoelhou-se, fez uma oração agradecendo a Deus pelo dia e pediu proteção a todos companheiros durante a caçada. Quando o dia amanheceu o comerciante já estava nos esperando com um chimarrão para quebrar o jejum, em seguida nos deu um café com ovos fritos, broa e pinhão assado na chapa, ainda disse para voltarmos uns três quilômetros de onde viemos que ali poderíamos caçar sem problema nenhum. Meu pai, sr. Iargas e o cachorro perdigueiro desceram do caminhão para caçarem perdiz, eu e os demais tocamos até um criador onde acenderíamos um fogo para assar o churrasco do almoço. Alguns saíram para caçar no mato enquanto o sr. Boris consertaria o carburador do caminhão que tinha estragado. Perto do meio dia chegaram meu pai e o sr. Iargas que com uma espingarda pica-pau calibre 16 abateu um perdigão. Foi o primeiro perdigão que eu vi. Depois desta caçada eu tive a oportunidade de caçar muitas vezes com o sr. Iargas, inclusive na região de fragosas onde ele conhecia bem os locais que tinha perdiz.

 
A espingarda pica pau calibre 16 com a qual
o Iargas caçou a primeira perdiz que eu vi.
 

 

Comentários